quinta-feira, 22 de abril de 2010

Sabedoria embotada



Li, outro dia, frase assim: “O sábio procura a ausência de todas as dores. Não o prazer”. Não fazia referência à autoria, mas, seja de quem for a pérola, acredito que poder-se-ia comodamente trocar a palavra “sábio” por “covarde” sem perda de nexo. Aliás, ao contrário, talvez dessa maneira a frase faria algum sentido.
Essa é uma discussão antiga. Nasceu na Grécia pós-clássica, com os estoicistas e hedonistas, estes, basicamente, defendendo a busca pelo prazer; aqueles, o afastamento da dor. Atravessou séculos e Locke a retomou com certo relevo, já na idade moderna.
Muito se distorceu a respeito das idéias de Zenon, Epicuro e outros que buscavam o sentido da felicidade à luz da filosofia.
Hoje tais noções estão caricaturadas, deformadas propositalmente e poucos se apercebem do fato. Longe, bem longe do sentido original das vertentes filosóficas, associa-se atualmente ao hedonismo, alto grau de sensualismo e ao estoicismo, sentido de resignação monástica.
Mas, distorcidas ou não, ignoradas ou não, antigas contradições filosóficas continuam presentes, ainda que não percebidas como tais, em nosso cotidiano. Jamais, aliás, abandonaram nosso íntimo. Afinal, devemos evitar a dor ou buscar o prazer? O que vale mais a pena na curta vida que temos para viver?
Em análise breve constatamos que, apesar de as evidências mostrarem o contrário, parece que predomina, hoje, a tendência de se tentar evitar a dor. Sim, a liberação afetivo-sexual da juventude parece contradizer-me. Entretanto, há, nela, outra contradição que a coloca em xeque em sua essência: o prazer buscado nessa liberação tem o condão de satisfazer parcialmente, restando a necessidade do enamoramento para complementar o que se aspira: o prazer completo. Em outras palavras: transar é bom, mas não traz felicidade. Esta, só virá quando se transar com quem se ama, ou melhor, com a pessoa por quem se apaixonou. E aí é que vem a contradição: teme-se, morre-se de medo de se apaixonar, por medo de vir a sofrer posteriormente. Guarda-se, evita-se a todo custo entregar-se – não o corpo. O coração! E aí se crê que a sociedade é hedonista, contumaz perseguidora do prazer. Bobagem. Usam essa fachada para confundir a visão, fazendo-lhes parecer “descolados”, destemidos, auto-suficientes – exatamente como um “deusinho” tem de ser! Mas na verdade são todos covardes. Borram-se de medo de se apaixonarem, mesmo acreditando que somente assim serão realmente felizes (é aquela velha estória da criação cultural fictícia direcionada ao consumo e à manutenção da ordem social - vide publicações anteriores a respeito), sentirão o prazer por completo. Aí, limita-se a se envolver "somente" até certo ponto. Ou seja: evita-se a dor. A busca do prazer é mais aparente do que real.
O problema é o seguinte: o tempo é limitado. A vida é curta. E quando se percebe a besteira que fez, não há mais tempo de corrigi-la. Gastou-se a vida agindo covardemente, fugindo da possibilidade de se experimentar o prazer de fato – e, por conseguinte, a felicidade, uma vez que ambos os conceitos são, tradicionalmente, associados. Não espanta que pouco reste de brilho de esperança às pessoas de meia idade e nenhum aos idosos!
Intrépidos e destemidos “deusinhos” e “deusinhas”... acordai-vos uns aos outros enquanto é tempo...




quarta-feira, 14 de abril de 2010

Uma receita infalível!



Tenho uma receita mágica para você que deseja acabar com o amor que há em sua relação. Eu lhe asseguro: é infalível! Anote aí:

Primeiro, comece por desconfiar da pessoa que ama. Desconfie da autenticidade de seus propósitos, da veracidade de seus sentimentos. Demonstre claramente que não confia em suas palavras. Coloque-o(a) à prova. Teste-o(a) com “pegadinhas”, armadilhas, provas de fidelidade, confrontamento de idéias. Demonstre todo o seu potencial, seu talento em contradizê-lo(a). Faça-o(a) a sentir-se vigiado(a) em seus passos. Force-o(a) a sentir que, por mais que se esforce, jamais conquistará sua confiança. Faça-o(a) sentir como se vivesse pisando em ovos. Com o tempo ele(a) passará a se sentir frustrado(a) e fará jus ao que lhe foi atribuído injustamente todo o tempo, dando-lhe, ainda por cima, a oportunidade de apontar o dedo e dizer: “tá vendo? Eu não disse? Eu sabia!”.
Penso que apenas essas preliminares já sejam suficientes, mas, se com elas você ainda não tiver conseguido matar o amor de seu(sua) parceiro(a), tente o seguinte:
Posicione-se em um patamar superior a ele(ela). Faça-o(a) se sentir menos importante que você. Deixe claro que tudo o que se relaciona a você é mais relevante, mais ilibado, mais raro, mais pudico, mais nobre do que o que se relaciona a ele(ela). Maximize os defeitos dele(a) e minimize os seus. Aliás, deixe claro que todos os problemas pertinentes à relação são imanentes exclusivamente aos defeitos da outra pessoa – jamais seus.
Se ainda não tiver funcionado, tente radicalizar. Enrijeça suas opiniões o máximo que puder. Procure abolir a palavra “flexibilidade” de seu vocabulário. Cultue a intransigência! Mesmo sabendo que está errado(a), jamais dê o “braço a torcer”. Não importa o quanto dure a insistência dele(a) para que você veja o problema sob a ótica justa, resista firme em sua posição. Até que ele(a) ceda. E depois ceda de novo, e de novo. Lembre-se: Intransigência é tudo!
Você também pode tentar apelar para a hipocrisia – sempre funciona! Deixe claro que você pode fazer determinadas coisas que proíbe terminantemente a ele(a). Você pode! Ele(a) não! E fim! Sem motivos! Apenas porque é assim que deve ser! E pronto! Se julgar que isso é muito radical, tente argumentar coisas sem nexo só para dar a impressão que você não o está exigindo sem motivos. Qualquer coisa serve, por mais absurda que seja. O que importa é deixar claro que tudo o que se relaciona a você é permitido porque envolve apenas ingenuidade, pureza, nobreza de propósitos, de intenções. Já em relação a ele(a), as mesmas coisas, atos e fatos, são sujos, reprováveis e maldosos porque ele(a) não é como você: não tem seriedade, não tem caráter. Isso é infalível!
Se quiser, também pode acrescentar uma pitada de surtos de insanidade passional. Mostre-se desequilibrado(a). Quebre alguns objetos de vidro. Grite. Xingue. Não poupe maledicências. Use e abuse do seu vocabulário e da sua imaginação destrutiva. Deixe o sangue fluir aos olhos. Se puder fazê-lo com testemunhas, tanto melhor! Uma ceninha de baixaria é infalível no propósito de matar o amor!
Estou certo de que se você seguir, ainda que não fielmente, esta receita, seus resultados serão infalíveis! Resultados garantidos ou seu dinheiro de volta!


Boa sorte. Você vai precisar!!!!!!!!!!!



terça-feira, 13 de abril de 2010

Síndrome da pseudo-auto-suficiência-adquirida ou o princípio da “reincidência disentérica”


Sabe aquele tipo de pessoa que, ao surgimento de qualquer tipo de incongruência de opiniões apressa-se em dar de ombros e dizer: “F...! Ou é do meu jeito ou tchau”. Algo do tipo “My way or the highway”. Parecem não depender de nada de ninguém, não é mesmo?! Auto-suficientes extremados, crêem sempre que não têm de ser construtivos já que se causarem o afastamento de alguém de seu convívio, outros tantos correrão em sua direção – jamais lhes faltará companhia de qualidade, atenção, carinho. O mundo conspira a seu favor, afinal! Pudera: seu egocentrismo os cega a ponto de crerem que o mundo gira ao seu redor. As pessoas gravitam ao seu redor, alegres, cooperativas, compreensivas, ávidas por agradar. Na primeira contrariedade que sofrem apelam para o instituto conhecido como “chutar o balde”. Como poderia ser diferente? Se sou o centro de tudo, posso execrar as partes que não me agradam, já que outras tantas acorrerão à minha disposição.
Sabe o que é mais interessante (ou engraçado, se preferir)? Vê-las descobrir que um corolário dessa lei que decretaram para nortear suas vidas é o que poderíamos chamar de princípio da “reincidência entérica”. Trata-se de uma incidência factual reiteradamente observada nesses casos em que, após o “chute no balde”, advém, invariavelmente, mais cedo ou mais tarde, efeitos colaterais que poderíamos descrever como “dor de barriga reincidente”. É o velho e bom mote: “dor de barriga não dá uma vez só!”.
Pessoas pertencentes a esse tipo de grupo, ora em análise, fazem o que querem, do jeito que querem e desfazem quando e como querem, sem levar em consideração – claro! – os ganhos que auferiam com a situação que “chutaram”. Fazem-no por um simples motivo: estão certas de serem justas merecedoras de benesses idênticas de quem quer que seja, pelo simples fato de serem “especiais”. Suas necessidades estavam supridas e, por isso, não se ressentiam pela falta de tais suprimentos. Acontece, porém, que, por óbvio, sua análise fora imprecisa, dada sua autoconfiança, sua auto-suficiência. Não imaginavam que, possivelmente, as benesses que recebiam em tal situação fática ou relação, não as encontraria novamente disponíveis como as tinha antes. Ops... a dor de barriga reincidiu! Só que agora não tem mais jeito! O balde foi chutado e o leite derramou. E daí? O que fazer?
Bem... além de uma satisfativa risada de mofa, ofereço-lhe uma sugestão: um lugar quentinho que lembra o acolhimento do ventre materno, é a cama. Chorar em silêncio nela é um bom consolo para os imbecis que se acham melhores do que os outros, e que crêem que dor de barriga dá uma vez só. Se resolverá o problema, eu não sei, mas, ao menos, ninguém o(a) verá chorando e você poderá manter a pose de auto-suficiente, já que o que importa, na verdade, não é a verdade, mas o que os outros devem pensar sobre você, não é mesmo?! Rss... (Desculpe! Escapou!)

domingo, 11 de abril de 2010

"Pegue, mas não se apegue"



Dia desses ouvi uma frase que havia sido dita, a título de conselho, por uma garota a sua irmã: “Pega, mas não se apega”.
Bem, à primeira vista, denota apenas a atitude mais viável em dias atuais, em termos pré-relacionais: experimente o mais que puder, quantitativamente. Sem preocupação qualitativa. Normal... Uma vez que tudo se banalizou, aqui não seria diferente. Como em tudo na vida, mudanças apresentam prós e contras. Não me afeto significativamente com tal realidade. Quer “pegar”? Pega. Não passe vontade! Se lhe é suficiente... ótimo! “Não se apegar” facilita a continuidade da profusão de “pegação”. Atitude adequada ao fim a que se destina.
Entretanto, um outro significado que a mesma expressão pode assumir chama minha atenção, negativamente. Preocupa-me. “Não se apegar” pode significar (e normalmente significa): “Não se envolva emocionalmente para não sofrer”. Essa significação, sim, causa-me aflição!
Tudo bem que tudo ficou banal, monótono e superficial em dias atuais. Mas... meu Deus! Qual o sentido lógico de se evitar “apegar-se” por medo de sofrer?! Desculpem-me a franqueza, mas, pensar assim e agir segundo essa máxima corresponde a cortar a cabeça para evitar dor de cabeça. Não há lógica alguma! Se o que se busca é envolver-se, e a graça do envolvimento está justamente no estabelecimento de vínculos emocionais, sem os quais não há sequer envolvimento – no máximo algum contato físico, rápido e mal-acabado -, qual seria o sentido de “buscar mas não buscar”? Comparo isso a alguém que trabalha por salário e, chegando ao final do mês, pede que seu patrão lhe pague pouco (ou sequer lhe pague!) porque tem medo de ser assaltado e ter seu dinheiro levado. É, no mínimo, absurdo, para não dizer insano!
“Pega, mas não se apega”! Desculpem o termo, mas trata-se de uma única coisa: “cagaço”! Medo, covardia, insegurança! Alguém que pensa assim (e parece que muitos, muitos mesmo, pensam assim!) com toda certeza tem grau zero de confiança em si mesmo(a). E, por esse motivo, priva-se de experimentar e essência do envolvimento amoroso. Aquilo que realmente vale a pena. O sentir! O suspirar. O “ter em quem pensar ao travesseiro”. O êxtase da satisfação completa, o prazer do frio na barriga, a excitação da espera pela hora do encontro. Tudo isso – as coisas mais deliciosas da vida! – jogadas fora por medo! Insegurança! Meu Deus! Que mundo pobre!
Se eu tivesse que dar um conselho a alguém que pensa assim, eu diria: a vida é curta. Viva a vida! Não vegete! Porque viver assim é vegetar. E talvez seja por isso que o que mais se encontra por onde se olha, são pessoas infelizes. Vivendo suas vidas pela metade por medo de perder o que não têm coragem de conquistar. Medo de perder o que não têm!
Vá à luta! Faça o seu melhor, dê o melhor de si, conquiste e deixe-se conquistar! Viva, sinta intensamente cada sensação, cada segundo. Esqueça-se do dia de amanhã. Ele não lhe pertence. Nem a pessoa com quem se envolver. As únicas coisas que lhe pertencem são as sensações que teve, as experiências que viveu. Se algo tiver de acabar, dane-se! Tudo acaba nessa vida, inclusive ela própria. Será que você vai esperar o final da sua vida para enxergar isso?! Aí não dará mais tempo! Olhará para trás e se arrependerá por ter vivido uma vida sem graça, sem tempero, por medo de perder algo que jamais teve, algo que poderia ter feito sua vida menos chata. Tê-la feito valer mais a pena ser vivida...
Não deu certo? Acabou? Perdeu? Foi abandonado(a)? E daí? Sua justa paga já lhe foi dada! As sensações! As coisas que viveu, compartilhou. Os suspiros que se deu... Créditos a se contabilizar ao final da vida! VIDA!
Eu diria isso a quem me perguntasse. Mas... como todos sabem tudo nessa terra infestada de ‘deusinhos’ oniscientes, a quem interessariam essas palavras, não é mesmo?!


quarta-feira, 7 de abril de 2010

"É possível falar um monte de mentiras dizendo só a verdade"


Já experimentou? Claro que sim. Todos nós já o fizemos. Fazemo-lo todos os dias em maior ou menor grau. Quando relatamos uma conversa com terceiro, uma discussão, um desempenho acadêmico ou atlético. Sempre realçamos algo que nos convém e suprimimos aspectos “desinteressantes”. Em maior ou menor medida, todos fazemos isso. Quando nos convém realçar nossa bravura, enaltecemos a grandeza do oponente. Quando nos interessa enfatizar nossa dor, agigantamos a crueldade do próximo. Normal! Todos nós, em regra, fazemos isso.
Aproxima-se, no entanto, da anormalidade aquele que, mais que distorcer, inverte a realidade ou a recria de acordo com seu arbítrio pessoal. Graças a Deus isso não é tão comum, mas também não é raro.
Já encontrou alguém assim? É o tipo que não poupa palavras para enaltecer alguém quando lhe convém. E, da mesma maneira, enxovalha verborragicamente a quem lhe interessa denegrir. Os argumentos não são, comumente, muito sólidos, claro. Mas acabam por convencer os mais incautos dada a veemência com que são apresentados.
É o tipo que, obviamente, se apressará em negar que distorce, a seu favor, a realidade. Ao contrário, dirá: “Eu só falo a verdade!” – proclamado, invariavelmente, em tom firme e convicto, desafiador...
São os melhores, os mais pudicos, ilibados! Os mais pretensamente insuspeitos. Não raro assumem postura de guardiões das cidadelas da moralidade, embora suas atitudes sugiram ‘modus operandi’ contrário.
Por serem, geralmente pouco racionais – já que, por óbvio, não têm noção muito clara da inviabilidade da tarefa a que se propõem: iludir a todos, todo o tempo – contradizem-se com freqüência o que os obriga a assumir, apelativamente, papéis de vítimas indignadas, quando contraditas.
Outra peculiaridade desse tipo de pessoa é a forte presença de hipocrisia em suas atitudes. O que permitem a si, proíbem aos outros. Suas atitudes não contêm qualquer traço de maldade ou segundas intenções; já as dos outros, ainda que idênticas, são permeadas de malícia. É assim que vêem, é assim que julgam.
Destarte, se você é como eu – um tipo que grafa suas virtudes em fonte tamanho 12 e seus defeitos em fonte 10, mas não deixa de grafá-los, então tome cuidado quando encontrar alguém de “virtudes fonte 40”, em negrito, sublinhada e “defeitos zero”. É provável que tentem lhe fazer acreditar que você é pior do que realmente é. Mas não se preocupe: o tambor, apesar de todo o barulho que faz, não tem nada além de ar no seu interior. E no final, a verdade sempre aparece...



terça-feira, 6 de abril de 2010

Regras...

Conversando com uma querida amiga, hoje, fui inquirido: “O que vem depois do ‘jogo’? O que acontece depois?”, referindo-se a um "protótipo de livro" que escrevi ano passado e entreguei-lhe uma cópia para que o avaliasse.
Pus-me, então, a pensar sobre a pergunta e suas possíveis repostas.
A primeira coisa é que o ‘jogo’ não acaba. Nunca! E não deve mesmo acabar! Se acabar, a relação esfria e provavelmente morre. De tempos em tempos é preciso que se desafie a autoridade do ‘líder’, seja ‘ele’ ou ‘ela’. O ‘comando’ da relação não deve ser inconteste. Ainda que não se consiga reverter o ‘placar do jogo’, deve-se sempre demonstrar ameaça à ‘liderança’ de quem ‘comanda’ a relação a fim de que ela não pareça monótona, e não se seja confundido(a) com objeto de ‘posse’ do ‘vencedor’ do jogo. Noutras palavras, é como se se dissesse: “Ok, você venceu, eu admito. Mas não pense que venderei barato minha rendição”.
Assim o mecanismo de disputa se mantém indefinidamente, alimentando a relação com os elementos que lhe são essenciais, além dos óbvios (atração, amor, respeito, etc). Quais são tais elementos? Ora, a dúvida e a insegurança, esta derivada daquela.
Parece-lhe incoerente que a insegurança e a dúvida sejam elementos essenciais às relações amorosas? Eu sei. Mas é só à primeira vista...
Veja: como você se sentiria se, de repente, percebesse que não existe a menor chance, em nenhuma hipótese, chance zero de, digamos, ser trocado(a) por outra pessoa? Chance zero de ser traído(a), abandonado(a), contrariado(a), esquecido(a). Como você se sentiria?
Bem, num primeiro momento, certamente sentir-se-ia muito bem! Sensação de vitória e segurança. Triunfo. Mas só no começo. Com o passar do tempo - alguns meses - você começaria a sentir certo enfado, certo desinteresse pelo objeto sobre o qual exerce total, completo e absoluto domínio. Sim, domínio! Afinal, somente com absoluto domínio sobre alguém (não exatamente físico! Psicológico.) é que se consegue obter tal certeza, tal segurança... Um domínio tal que se assemelha a posse. Equipara-se a ela. A posse! O túmulo do desejo! E o próximo passo seria a perda do respeito por quem se deixou ‘anular’. E... Pronto: o fim está próximo! Porque sem desejo e sem respeito, nenhuma relação subsiste.
Não é difícil de compreender tal fato. Basta observar o ser humano em suas atitudes cotidianas. Dá-se muito mais valor ao que não se tem, via de regra, do que àquilo que se tem. Deseja-se muito mais o que não se lhe pertence. Preza-se muito mais aquilo que se pode perder do que aquilo que se tem certeza de que jamais se terá de dispor. Esse é um dos motivos pelos quais se tratam tão mal os parentes, amigos e pares amorosos, achando-se que se os terá para sempre, e, quando se os perde, por abandono ou morte, desespera-se, atribuindo-se culpa a si por ter sido tão ‘ausente’.
Ainda que não se queira enxergar, as coisas são relativamente simples. Nós as complicamos porque negligenciamos as ‘regras’. Geralmente porque nossa vaidade ou nosso orgulho nos cegam: “Eu sou mais eu! Eu faço minhas regras”. Bobagem! A VIDA tem regras. As relações têm regras. Ignorá-las é contar com a sorte e, depois de perdido o ‘jogo’, cumpre atribuir a culpa a Deus, ao destino ou aos ‘outros’... Típico de covardes.
Sim, eu sei! Eu também preferia acreditar em papai Noel. Também preferia que fosse possível viver aquele ‘amor cor-de-rosa’ que escrevem e encenam em telas, por aí. Acontece que nosso espírito pobre em evolução, nossa natureza semi-irracional, nosso egoísmo invencível nos força a ter de rivalizar sempre, para provarmos a nós mesmos que somos ‘os melhores’. Daqui nasce todo o mal...
O cooperativo é confundido com fraco. O compreensivo, tomado por inocente. E fraqueza e inocência são atributos dos ‘perdedores’ – o tipo de que se quer manter distância ou se usa para enganar. Essa é, em regra, a natureza humana.
Em poucas palavras: “Venci, portanto sou o melhor. Se sou o melhor, mereço coisa melhor”. Simples assim.
Não espanta chegarmos todos ao final da vida e olharmos para trás com a sensação de que “não vivemos nada!”.
Assim, já que nem eu nem você podemos fazer algo para mudar essa realidade enraizada, melhor não negligenciarmos as “regras”! Se baixares a cabeça, serás destruído. Pisado, humilhado... sem piedade. E não diga que eu não avisei! (rss...)
Parece ‘guerra’? É eu sei. E lamento, também. Mas não fui eu quem criou essa realidade. Ela já existia antes de mim e continuará depois. Eu só estudo as regras...
Uma delas é: “Quer manter alguém consigo? Deixe-lhe perceber que terá dificuldades em manter a ti”.


E uma última "dica": Cuidado! Você NÃO É ESPECIAL! Não nesse jogo! Aqui, "os fãs de hoje serão os linchadores de amanhã", e o "pau que bateu em Francisco, ontem, baterá em Chico, amanhã". Inapelavelmente. Porque essa é a natureza humana.

Ops... Mas então não há o que se salve? Sim, claro que há! Os momentos. Viva-os como se fossem os últimos e terá valido a pena.




sexta-feira, 2 de abril de 2010

"Eu num intindi o que ele falô"


Não! Eu não vim criticar a alienação cultural. Vim exaltá-la! Falo sério!Vim enaltecê-la.
Você não pediu para nascer, não escolheu sua pátria, nem sua língua. Não escolheu onde (e se!) gostaria de estudar, nem as disciplinas que gostaria de aprender. Aliás, a própria 'disciplina' lhe foi imposta sem direito a apelação. Sua discricionariedade se limitou a decisões relativas a, no máximo, alguns envolvimentos amorosos e, talvez, o time de futebol para o qual você torce (isso se seu pai não for fanático!). O lixo cultural a que você é submetido quando liga a tv não foi escolha sua. Sua escolha se limita, então, a desligar o aparelho ou mantê-lo ligado. E a culpa, ainda por cima, é sua!

“É disso que o ‘povo’ gosta!”, dizem. Ora... você é o povo. Então decidiram por você sobre o que você gosta. E você levou a culpa.
A pontinha ínfima do iceberg retrata políticos guardando dinheiro em meias e cuecas. “Maus políticos”, dizem. E ninguém discorda. “Mas foi o povo que elegeu”. E ninguém discorda. Mais uma vez, a culpa é sua! Logo você que trabalha feito um condenado até meados de abril para pagar impostos que se lhe revertem em serviços públicos de “primeiro mundo”! Você banca a corrupção com seu suor e, porque respira os 'puros ares fétidos' de uma ‘democracia’, a culpa é sua!
Aliás, você vive em uma democracia “sui generis”. Você é OBRIGADO a exercer o DIREITO ao voto! E como, claro, sempre há um gênio para teorizar em favor do príncipe, provam que é sim um direito seu: a obrigatoriedade é do comparecimento às urnas. O direito que você tem é de optar por A ou B, que, aliás, equivalem-se sempre, e, por isso, a culpa por escolher errado, será sempre sua!
Você banca mordomias inimagináveis para nós “mortais” a centenas de brilhantes mentes legisladoras que, quando não estão ocupados, criam leis... Leis que, quase sempre, atentam contra seus próprios interesses pessoais e suas aspirações de cidadão. Leis que vão desde kits de primeiros socorros obrigatórios (que vergonha!) até a obrigatoriedade de obtenção de passaporte canino. Inteligências iluminadas que, por vezes, se “desvirtuam um pouco”... E a culpa é sua, que não fiscaliza!
Você recebe um tratamento vexatório em repartições públicas sustentadas pelo seu dinheiro, submetido à má vontade de funcionários mal-treinados e mal-educados, mal-orientados ou desorientados e a culpa é sua, que não reclama! E se você perde a compostura, indignado, comete ilícito penal! A culpa é sua!
Você tem de respeitar a lei, mesmo desconhecendo-a, enquanto outros, profundos conhecedores dos códigos, não a cumprem. E, pior: os doutos “excelentes” que decretam que ninguém se livrará de cumprir a lei alegando desconhecê-la, são os mesmos que a escrevem em linguagem ininteligível permeada de termos técnicos esdrúxulos com o objetivo claro de que você não a entenda. Reserva intelectual. Reserva de merdado. Você não tem o "jus postulandi". Não entendeu? Capacidade postulatória. Não entendeu ainda? A culpa é sua!
Ou seja... você está f.., não tem para onde correr, a quem recorrer, tem de fazer cara bonita e se reclama, lhe chamam de chato. Ou de perdedor! Afinal... a culpa é sua!
Nem sequer alienar-se você pode! Se disser: “eu não quero nem saber de política”, dirão: “ta vendo? É por causa de gente como você que o país está como está. Depois não reclama”. Alienado!

Desculpem-me todos os gênios de plantão, os inúmeros pretensos salvadores da pátria, os arautos do ativismo inefiscaz, os inertes críticos da inatividade política e os quase-inocentes otimistas, mas... alinho-me à alienação! Exilo-me voluntáriamente no reino do conteúdo vazio. Porque, ao menos, o vácuo não fede.
E se me vierem elidir com contra-argumentos verborrágicos permeados de acrimônia moralista, limitar-me-ei a dizer: "Eu num intindi o que ele falô".



Assim sendo, quero mandar um "salve" para o pessoal do Pânico na TV, em especial pro Zina. Um "salve" pro Marcelo Dourado. Um "salve" também para aquela "belezura" da Tessália, e um "salve" especial pro meu amigo Glauco que se transferiu para o período da noite. Quero também mandar um "salve" para o Dunga, um "salve" pro Ronaldo, que brilha muito no Corínthians. Um salve pro, pro, pro...