Depois de receber diversas manifestações de reconhecimento e incentivo em relação aos textos aqui publicados – manifestações pelas quais quero, novamente, agradecer -, abalei-me a vir aqui, criar nova(s) postagem(ns).
Interessante observar que o ano, que parece mal ter começado, já avança a passos largos para atingir completo seu primeiro quartel. E pergunto-me estarrecido: onde está o tempo?! O que e por que acontece de, simplesmente, não se ter tempo para absolutamente nada?
Algumas elucubrações se fazem inolvidáveis. Abordemo-las, pois...
Primeiro, constatemos alguns fatos: já reparou que o número de tarefas a serem cumpridas ao longo de determinado período aumentou significativamente com o tempo? Note que, há dois, cinco anos, você tinha um número menor de atribuições e tarefas que dependiam de você. Agora precisamos trabalhar mais, em quantidade e qualidade, para sermos “competitivos” – outro nome para “sobrevivermos sem perda de padrão econômico”. Afinal, não é difícil perceber que, hoje, para se manter um determinado padrão, mister se faz produzir muito mais do era necessário há alguns anos.
Não só isso. A “velocidade social” também aumentou. O que quero dizer com isso? Simples: o conjunto de tudo o que se faz, cria, troca-se na sociedade. A informação, por exemplo: os modelos de jornais televisados mudaram, as notícias ficaram fracionadas em nome da objetividade. Os filmes ganharam sensível aceleração em seu ritmo e se tornaram mais, digamos, “dinâmicos” – termo revestido de conotação “valorizante”.
Tudo se acelerou! O trânsito, as músicas... até mesmo os ‘namoros’... rss...
Se isso é bom? Irrelevante, já que se trata de julgamento de valor. Se é benéfico? Improvável! Afinal, vive-se sem 'viver'. Trabalha-se para viver e vive-se para trabalhar, tudo em compasso tão acelerado que mal se pode perceber tais mudanças se processando.
Há, pasme, teorias científicas que afirmam que o tempo está realmente acelerando, fundadas em relatividade. Se corretas, não posso afirmar, já que não disponho de capacidade técnica para tal, mas, certamente, bastante consistentes e lógicas.
Entretanto, colocando a ciência físico-natural de lado, podemos nos deter nas ciências sociais para encontrar ao menos parte das respostas.
Do que vou dizer a seguir, pouco me pertence. São idéias compiladas livremente, colhidas de obras de diversos sociólogos.
É deveras conveniente a quem se beneficia de determinado sistema social, que tal sistema se mantenha em equilíbrio, em segurança. Uma ameaça à segurança de qualquer sistema de manutenção e controle social é, por óbvio, a ocorrência de eventos que perturbem o equilíbrio de poder nele estabelecido. Um dos mais efetivos eventos capazes de afetar tal equilíbrio, é a rebeldia contra tal disposição sócio-estrutural. A força motriz, ou melhor, a mola propulsora da rebeldia e suas culminações reside num único ato: o pensar! Ao se pensar – pensar legitimamente, questionar! – percebe-se as incoerências do sistema, suas injustiças. A porta está aberta para a ação! E aqui reside o maior perigo para o "equilíbrio social": A ação! Vide as atuais ocorrências no norte do continente africano e adjacências.
Então, pergunta-se: qual a melhor forma de se evitar que a “semente germine”? Inviabilizando-se a possibilidade de “pensar”! E, se você notar, é exatamente isso o que está acontecendo nesse exato momento: minam-se as forças do cidadão, extenuando-o, exaurindo-o a tal ponto que ele, simplesmente, não consegue pensar!
É conveniente a falta de tempo! O excesso de compromissos.
Aí, extenuado, buscar-se-á “aproveitar” o exíguo tempo “livre” com diversão fugaz, que acaba por enterrar definitivamente a possibilidade de “pensar”. Aliás, não raro, se diz: “agora não quero pensar em mais nada! Quero apenas me divertir!”. Aí, "acaba-se" em bebidas, festas –geralmente barulhentas!-, noitadas, coisas assim... “revigorantes” (ao menos para o sistema! Rss...).
Bem, eu adoraria continuar a escrever, mas... preciso voltar ao trabalho! Coisas do “sistema”!
Obrigado, novamente a todos que me escreveram – a maioria, pessoas que não conheço pessoalmente, mas que julgaram ser importante encontrar um tempo para “pensar”. Seu incentivo é minha força motriz para vir aqui exercitar o direito que tentam a todo custo tirar de mim: o sagrado ofício de “refletir”.