Uma das coisas que ‘descobri’ nesse ano de 2010 foi que... fui enganado! Ou melhor, enganei-me! Sim... Sabe daqueles enganos “homéricos”? Sabe quando se acredita em algo por anos, décadas, e, perplexo, descobre-se haver se enganado? A mim aconteceu! Se você já passou por isso, deve saber o tamanho da frustração que se abate sobre o “desiludido”.
Dividi-lo-ei...
Eu sempre tive uma certeza. Carreguei-a comigo por décadas... Eu via a condição sócio-econômica das pessoas, na média, e condoia-me. Penalizava-me pensar que este pobre e sofrido povo carecia de educação e cultura por reflexo conseqüente das demais carências, em particular a econômica. Dedução lógica! Ora, ganhando-se salário de menos de setenta dólares, como se pode pensar em adquirir cultura? Estando-se desempregado, provavelmente com fome, como se preocupar com cultura? A educação é a primeira vítima da fome! Esta a primeira parte da minha "construção mental".
A segunda: eu sempre, sempre pensei que cultura e educação e civilidade e cidadania eram tintas de um mesmo quadro harmônico. Caminhavam, desenvolviam-se juntas, simbioticamente.
Bem, agora basta “ligar os pontinhos”: melhorando-se a situação econômica de um país, as pessoas terão condições de acessar fontes de cultura, educação; desenvolver-se-ão, tornando-se cidadãos mais educados, corteses, e uma sociedade melhor decorrerá de tal mudança. Rsssssssssss... Quem disse que o mundo tem lógica?
Eis a "Terra de Vera Cruza" enriquecendo! Oba! Agora sim poderemos ver crianças bebendo na fonte do conhecimento formal decente, sólido, edificante. Agora sim poderemos ver jovens mais bem-formados, responsáveis. Adultos mais educados, corteses, civilizados! Agora sim poderemos, enfim, ver algum vestígio de mesura nos modos; sementes, aqui e ali, de preocupação com a coletividade, respeito para com o próximo, um esboço de gestos corteses e português minimamente bem falado e escrito. Afinal, o “bolo crescido começa a ser dividido”! Mas... eis que “Deu (-se) fim” ao meu tão ‘lógico’ sonho infantil.
Perplexo observei o “plus” econômico, a migalha do inimaginavelmente crescido “bolo” até ontem dividido por poucos, o quinhão que a cada um começa a ser dado, teve destinação bem diversa! Transformou-se em carros, carros e mais carros. Motocicletas. Apartamentos-pombais com vergonhosos 41 metros quadrados de área. Transformou-se em TVs de plasma full HD, em churrascos e cervejadas barulhentas todos os finais de semana. Num aumento sensacional na venda (e queima) de barulhentos fogos de artifício (estouram-se-os a todo momento, por toda parte, sem eu entender exatamente o porquê!). Celulares... Abundância! Que bênção! Mas...
Eis que se esqueceu de gastar um pouquinho dessa ‘polpuda migalha’ com educação, cultura... e, o que era para ser a “hora da virada”, virou a "hora do pesadelo"! Ah, Deus! Que inferno se transformaram as ruas, o trânsito. Vias apinhadas de veículos conduzidos por “deuzinhos insuflados” pela falsa sensação de poder, por, enfim, ter-se um carro zero (ou ao menos um carro!), ‘senhores’ de peito de aço e pés de barro, de nariz empinado, prontos para xingar, cometer infrações e imperícias (bareiragens, mesmo!) absurdas, expor com todas as cores a sua falta de educação e seu desprezo pelo próximo.
Antes, professores apanhavam de alunos. Hoje são mortos!
A esperada cortesia e civilidade que acompanha a abundância, deu lugar a um teatro de horrores interpretado por anônimos atores incultos e deseducados. O que era para melhorar, piorou...
E eu me enganei...
Hoje a ermitania já não me parece assim tão ilógica...
Bem, mas quem foi que disse que a vida é lógica?