terça-feira, 6 de abril de 2010

Regras...

Conversando com uma querida amiga, hoje, fui inquirido: “O que vem depois do ‘jogo’? O que acontece depois?”, referindo-se a um "protótipo de livro" que escrevi ano passado e entreguei-lhe uma cópia para que o avaliasse.
Pus-me, então, a pensar sobre a pergunta e suas possíveis repostas.
A primeira coisa é que o ‘jogo’ não acaba. Nunca! E não deve mesmo acabar! Se acabar, a relação esfria e provavelmente morre. De tempos em tempos é preciso que se desafie a autoridade do ‘líder’, seja ‘ele’ ou ‘ela’. O ‘comando’ da relação não deve ser inconteste. Ainda que não se consiga reverter o ‘placar do jogo’, deve-se sempre demonstrar ameaça à ‘liderança’ de quem ‘comanda’ a relação a fim de que ela não pareça monótona, e não se seja confundido(a) com objeto de ‘posse’ do ‘vencedor’ do jogo. Noutras palavras, é como se se dissesse: “Ok, você venceu, eu admito. Mas não pense que venderei barato minha rendição”.
Assim o mecanismo de disputa se mantém indefinidamente, alimentando a relação com os elementos que lhe são essenciais, além dos óbvios (atração, amor, respeito, etc). Quais são tais elementos? Ora, a dúvida e a insegurança, esta derivada daquela.
Parece-lhe incoerente que a insegurança e a dúvida sejam elementos essenciais às relações amorosas? Eu sei. Mas é só à primeira vista...
Veja: como você se sentiria se, de repente, percebesse que não existe a menor chance, em nenhuma hipótese, chance zero de, digamos, ser trocado(a) por outra pessoa? Chance zero de ser traído(a), abandonado(a), contrariado(a), esquecido(a). Como você se sentiria?
Bem, num primeiro momento, certamente sentir-se-ia muito bem! Sensação de vitória e segurança. Triunfo. Mas só no começo. Com o passar do tempo - alguns meses - você começaria a sentir certo enfado, certo desinteresse pelo objeto sobre o qual exerce total, completo e absoluto domínio. Sim, domínio! Afinal, somente com absoluto domínio sobre alguém (não exatamente físico! Psicológico.) é que se consegue obter tal certeza, tal segurança... Um domínio tal que se assemelha a posse. Equipara-se a ela. A posse! O túmulo do desejo! E o próximo passo seria a perda do respeito por quem se deixou ‘anular’. E... Pronto: o fim está próximo! Porque sem desejo e sem respeito, nenhuma relação subsiste.
Não é difícil de compreender tal fato. Basta observar o ser humano em suas atitudes cotidianas. Dá-se muito mais valor ao que não se tem, via de regra, do que àquilo que se tem. Deseja-se muito mais o que não se lhe pertence. Preza-se muito mais aquilo que se pode perder do que aquilo que se tem certeza de que jamais se terá de dispor. Esse é um dos motivos pelos quais se tratam tão mal os parentes, amigos e pares amorosos, achando-se que se os terá para sempre, e, quando se os perde, por abandono ou morte, desespera-se, atribuindo-se culpa a si por ter sido tão ‘ausente’.
Ainda que não se queira enxergar, as coisas são relativamente simples. Nós as complicamos porque negligenciamos as ‘regras’. Geralmente porque nossa vaidade ou nosso orgulho nos cegam: “Eu sou mais eu! Eu faço minhas regras”. Bobagem! A VIDA tem regras. As relações têm regras. Ignorá-las é contar com a sorte e, depois de perdido o ‘jogo’, cumpre atribuir a culpa a Deus, ao destino ou aos ‘outros’... Típico de covardes.
Sim, eu sei! Eu também preferia acreditar em papai Noel. Também preferia que fosse possível viver aquele ‘amor cor-de-rosa’ que escrevem e encenam em telas, por aí. Acontece que nosso espírito pobre em evolução, nossa natureza semi-irracional, nosso egoísmo invencível nos força a ter de rivalizar sempre, para provarmos a nós mesmos que somos ‘os melhores’. Daqui nasce todo o mal...
O cooperativo é confundido com fraco. O compreensivo, tomado por inocente. E fraqueza e inocência são atributos dos ‘perdedores’ – o tipo de que se quer manter distância ou se usa para enganar. Essa é, em regra, a natureza humana.
Em poucas palavras: “Venci, portanto sou o melhor. Se sou o melhor, mereço coisa melhor”. Simples assim.
Não espanta chegarmos todos ao final da vida e olharmos para trás com a sensação de que “não vivemos nada!”.
Assim, já que nem eu nem você podemos fazer algo para mudar essa realidade enraizada, melhor não negligenciarmos as “regras”! Se baixares a cabeça, serás destruído. Pisado, humilhado... sem piedade. E não diga que eu não avisei! (rss...)
Parece ‘guerra’? É eu sei. E lamento, também. Mas não fui eu quem criou essa realidade. Ela já existia antes de mim e continuará depois. Eu só estudo as regras...
Uma delas é: “Quer manter alguém consigo? Deixe-lhe perceber que terá dificuldades em manter a ti”.


E uma última "dica": Cuidado! Você NÃO É ESPECIAL! Não nesse jogo! Aqui, "os fãs de hoje serão os linchadores de amanhã", e o "pau que bateu em Francisco, ontem, baterá em Chico, amanhã". Inapelavelmente. Porque essa é a natureza humana.

Ops... Mas então não há o que se salve? Sim, claro que há! Os momentos. Viva-os como se fossem os últimos e terá valido a pena.




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