quarta-feira, 7 de abril de 2010

"É possível falar um monte de mentiras dizendo só a verdade"


Já experimentou? Claro que sim. Todos nós já o fizemos. Fazemo-lo todos os dias em maior ou menor grau. Quando relatamos uma conversa com terceiro, uma discussão, um desempenho acadêmico ou atlético. Sempre realçamos algo que nos convém e suprimimos aspectos “desinteressantes”. Em maior ou menor medida, todos fazemos isso. Quando nos convém realçar nossa bravura, enaltecemos a grandeza do oponente. Quando nos interessa enfatizar nossa dor, agigantamos a crueldade do próximo. Normal! Todos nós, em regra, fazemos isso.
Aproxima-se, no entanto, da anormalidade aquele que, mais que distorcer, inverte a realidade ou a recria de acordo com seu arbítrio pessoal. Graças a Deus isso não é tão comum, mas também não é raro.
Já encontrou alguém assim? É o tipo que não poupa palavras para enaltecer alguém quando lhe convém. E, da mesma maneira, enxovalha verborragicamente a quem lhe interessa denegrir. Os argumentos não são, comumente, muito sólidos, claro. Mas acabam por convencer os mais incautos dada a veemência com que são apresentados.
É o tipo que, obviamente, se apressará em negar que distorce, a seu favor, a realidade. Ao contrário, dirá: “Eu só falo a verdade!” – proclamado, invariavelmente, em tom firme e convicto, desafiador...
São os melhores, os mais pudicos, ilibados! Os mais pretensamente insuspeitos. Não raro assumem postura de guardiões das cidadelas da moralidade, embora suas atitudes sugiram ‘modus operandi’ contrário.
Por serem, geralmente pouco racionais – já que, por óbvio, não têm noção muito clara da inviabilidade da tarefa a que se propõem: iludir a todos, todo o tempo – contradizem-se com freqüência o que os obriga a assumir, apelativamente, papéis de vítimas indignadas, quando contraditas.
Outra peculiaridade desse tipo de pessoa é a forte presença de hipocrisia em suas atitudes. O que permitem a si, proíbem aos outros. Suas atitudes não contêm qualquer traço de maldade ou segundas intenções; já as dos outros, ainda que idênticas, são permeadas de malícia. É assim que vêem, é assim que julgam.
Destarte, se você é como eu – um tipo que grafa suas virtudes em fonte tamanho 12 e seus defeitos em fonte 10, mas não deixa de grafá-los, então tome cuidado quando encontrar alguém de “virtudes fonte 40”, em negrito, sublinhada e “defeitos zero”. É provável que tentem lhe fazer acreditar que você é pior do que realmente é. Mas não se preocupe: o tambor, apesar de todo o barulho que faz, não tem nada além de ar no seu interior. E no final, a verdade sempre aparece...



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