domingo, 11 de abril de 2010

"Pegue, mas não se apegue"



Dia desses ouvi uma frase que havia sido dita, a título de conselho, por uma garota a sua irmã: “Pega, mas não se apega”.
Bem, à primeira vista, denota apenas a atitude mais viável em dias atuais, em termos pré-relacionais: experimente o mais que puder, quantitativamente. Sem preocupação qualitativa. Normal... Uma vez que tudo se banalizou, aqui não seria diferente. Como em tudo na vida, mudanças apresentam prós e contras. Não me afeto significativamente com tal realidade. Quer “pegar”? Pega. Não passe vontade! Se lhe é suficiente... ótimo! “Não se apegar” facilita a continuidade da profusão de “pegação”. Atitude adequada ao fim a que se destina.
Entretanto, um outro significado que a mesma expressão pode assumir chama minha atenção, negativamente. Preocupa-me. “Não se apegar” pode significar (e normalmente significa): “Não se envolva emocionalmente para não sofrer”. Essa significação, sim, causa-me aflição!
Tudo bem que tudo ficou banal, monótono e superficial em dias atuais. Mas... meu Deus! Qual o sentido lógico de se evitar “apegar-se” por medo de sofrer?! Desculpem-me a franqueza, mas, pensar assim e agir segundo essa máxima corresponde a cortar a cabeça para evitar dor de cabeça. Não há lógica alguma! Se o que se busca é envolver-se, e a graça do envolvimento está justamente no estabelecimento de vínculos emocionais, sem os quais não há sequer envolvimento – no máximo algum contato físico, rápido e mal-acabado -, qual seria o sentido de “buscar mas não buscar”? Comparo isso a alguém que trabalha por salário e, chegando ao final do mês, pede que seu patrão lhe pague pouco (ou sequer lhe pague!) porque tem medo de ser assaltado e ter seu dinheiro levado. É, no mínimo, absurdo, para não dizer insano!
“Pega, mas não se apega”! Desculpem o termo, mas trata-se de uma única coisa: “cagaço”! Medo, covardia, insegurança! Alguém que pensa assim (e parece que muitos, muitos mesmo, pensam assim!) com toda certeza tem grau zero de confiança em si mesmo(a). E, por esse motivo, priva-se de experimentar e essência do envolvimento amoroso. Aquilo que realmente vale a pena. O sentir! O suspirar. O “ter em quem pensar ao travesseiro”. O êxtase da satisfação completa, o prazer do frio na barriga, a excitação da espera pela hora do encontro. Tudo isso – as coisas mais deliciosas da vida! – jogadas fora por medo! Insegurança! Meu Deus! Que mundo pobre!
Se eu tivesse que dar um conselho a alguém que pensa assim, eu diria: a vida é curta. Viva a vida! Não vegete! Porque viver assim é vegetar. E talvez seja por isso que o que mais se encontra por onde se olha, são pessoas infelizes. Vivendo suas vidas pela metade por medo de perder o que não têm coragem de conquistar. Medo de perder o que não têm!
Vá à luta! Faça o seu melhor, dê o melhor de si, conquiste e deixe-se conquistar! Viva, sinta intensamente cada sensação, cada segundo. Esqueça-se do dia de amanhã. Ele não lhe pertence. Nem a pessoa com quem se envolver. As únicas coisas que lhe pertencem são as sensações que teve, as experiências que viveu. Se algo tiver de acabar, dane-se! Tudo acaba nessa vida, inclusive ela própria. Será que você vai esperar o final da sua vida para enxergar isso?! Aí não dará mais tempo! Olhará para trás e se arrependerá por ter vivido uma vida sem graça, sem tempero, por medo de perder algo que jamais teve, algo que poderia ter feito sua vida menos chata. Tê-la feito valer mais a pena ser vivida...
Não deu certo? Acabou? Perdeu? Foi abandonado(a)? E daí? Sua justa paga já lhe foi dada! As sensações! As coisas que viveu, compartilhou. Os suspiros que se deu... Créditos a se contabilizar ao final da vida! VIDA!
Eu diria isso a quem me perguntasse. Mas... como todos sabem tudo nessa terra infestada de ‘deusinhos’ oniscientes, a quem interessariam essas palavras, não é mesmo?!


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