sexta-feira, 13 de julho de 2012

"POR QUE TRABALHO TANTO?", OU A SÍNDROME DA ESCRAVIDÃO FELIZ


A respeito de uma postagem que fiz em meu perfil no "Facebook", que trazia um videoclipe da música "Price Tag", de Jessie J e B.O.B, cuja letra busquei realçar por julgá-la soberba, minha grande amiga Lu Klein levantou uma interessante questão: "Mas por que, então, as pessoas trabalham tanto?"
Bem, para se compreender a real medida da pertinência da pergunta interessante que se conheça o conteúdo da referida letra.
Entretanto, por se tratar de indagação de natureza filosófica, subsiste seu relevo ainda que divorciado do ideário que a suscitou.
Penso que a resposta mais adequada integra elementos de teoria sociológica e psicologia social. 
Boa parte, creio, do rol de "motivos" pelos quais o homem "trabalha tanto", podemos depreender da base da "Pirâmide de Maslow" (muito parecida, aliás, com a "Pirâmide de Kelsen", caros colegas advogados e "aspirantes") que informa que a motivação básica do ser humano são suas necessidades primárias, fisiológicas, seguidas das necessidades psicológicas.
Assim, boa parte dos pobres diabos que se matam de trabalhar, geralmente a troco de "parcos dinheiros", trabalham por extrema necessidade.
Satisfeitas, porém, aquelas primárias, surgem, ainda que num limiar semi-obscuro, as necessidades secundárias, constituindo-se, agora, em fatores de motivação, as aspirações psicológicas.
Entendo que é aqui que se interceptam as "elipses de Venn" do problema, criando uma "região mista" na qual interagem aspectos sociológicos e psicológicos. E é sobre esse ponto, a meu ver, que o "controle social" estende seus tentáculos, alcançando o homem e estabelecendo a fundação da estrutura de manutenção do sistema capitalista.
O raciocínio é simples: as necessidades psicológicas advém de símbolos e valores internalizados. Assim, primeiro se promove a internalização da necessidade de sucesso profissional, da importância do acúmulo de riqueza, da valorização do status social (lato sensu), assim como a internalização do sentimento de vergonha e a certeza do desprezo e não aceitação social daquele que "fracassar" na busca do valores culturalmente eleitos.
Está formado o arcabouço que, mediante controle social - na forma de pressão por resultados e reprovação e ostracismo ao "fracassado" -, obrigará o pobre "escravo psicológico" a buscar sempre mais e com maior avidez os frutos decorrentes do trabalho.
Não creio, no entanto, que essa construção explique, de per si, a totalidade dos mecanismos (distintos mas consonantes) que regem a totalidade de tal processo.
Acredito que há, ainda, uma componente "genética", rudimento do passado remoto não superado pela evolução humana - um "hábito pré-histórico" assim como dormir, o homem, sempre do lado da cama voltado para a porta de entrada do dormitório, a fim de, inconscientemente, proteger a mulher.
Apesar de todo o egocentrismo humano, somos "intrusos tardios" na história evolutiva do planeta. Descendemos de criaturas rudes que descenderam de outras tantas ainda mais rudimentares, cuja única preocupação era a de sobreviver, entendendo-se com isso, alimentar-se e se proteger de ataques de outros animais.
Penso que parte da "ganância" que campeia as "necessidades" do topo da pirâmide de Maslow, tenha, como uma de suas componentes, uma "memória genética", um instinto de sobrevivência deturpado, que induz à acumulação irracional de bens além da necessidade.
E há, ainda, aqueles casos patológicos em que se trabalha em demasia para "esconder-se de problemas", para "preencher vazios" (sejam eles da natureza que forem), etc.
A conjugação de todos esses fatores, penso, determina o motivo pelo qual o homem seja um "escravo de múltiplos amos", incluindo-se a si próprio.
Mas se eu tivesse que eleger um que prepondere, eu não hesitaria em apontar o fator sociológico. Sobretudo, impera a "Lei do Triunfo" hilliana e o culto murphyiano à prosperidade. E disso jamais conseguiremos nos desvencilhar. Infelizmente.
E o motivo é simples: o "sistema" desenvolve defesas. E a principal, porque mais eficaz, é a alienação. Afinal, escravos alienados são escravos voluntários, e, dessa forma, seremos sempre escravos felizes!




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