quinta-feira, 12 de julho de 2012

O QUARTO REICH

Ainda na linha de análise das proezas do "macaco defectivo" e sua míope visão antropocentrista, gostaria de abordar o mecanismo de formação de tal modus pensandi e seus efeitos.
O homem é o reflexo de suas convicções e estas nascem de sua imersão em um ou mais "oceanos ideológicos" que influenciam sua forma de sentir e pensar, e, por via de consequência, suas atitudes.
Não há sistema político ou econômico sem a componente humana. As massas populacionais constituem o pilar de qualquer sistema. Não há capitalismo sem mercado consumidor ou mão-de-obra; não há regime político sem apoio popular. Assim, o caractere humano é essencial à manutenção de qualquer "sistema" que se deseje implantar ou perpetuar.
Uma vez que um "sistema" sobrevive das massas humanas, é mister que desenvolva mecanismos de controle que garantam sua ordem e obediência.
Da observação (ainda que superficial) da História, depreende-se com nitidez que o emprego de força é ineficaz ao alcance de tal desiderato.
Pouco se consegue em termos de cooperação humana, senão com o engajamento insuflado pela convicção.
A melhor maneira de se alcançar tal propósito é inocular valores à psique humana, o que se alcança por meio da veiculação ideológica.
Tal "inoculação" se materializa por diversas formas, sendo as principais a religião, a propaganda e a educação formal.
Não por acaso Her Hitler e o senhor Goebbels tomaram para o Estado o ensino infantil e massificaram as idéias de superioridade racial por meio de intensa propaganda política, explícita ou subliminar. Mein Kampf, aliás, tornou-se leitura obrigatória a partir de 1936 e as famílias que não possuíam um exemplar de tal obra (um misto de delírio e lamúrias de autopiedade!) poderiam ser delatadas como simpatizantes do regime stalinista.
Isto posto, atenhamo-nos à massificação ideológica da atualidade: a busca incessante, frenética e obrigatória pelo lucro.
Aliás, para ser preciso, nem tão atual, vez que já no século XVI o Cristianismo "modernizou-se" para promover o louvor ao lucro e à usura, que até então tinham sido ferrenhamente combatidos pela opulenta Igreja.
Pois bem, hoje, campanha publicitária de relógio de pulso tem como slogan "Conquiste o seu lugar, porque você merece o melhor". Tênis são vendidos sob o lema: "Porque o mundo é seu". Canais televisivos (pagos!) que deveriam tratar de sua "suposta especialidade" como o History Channel, destinam à maior parte de sua grade em horário nobre, programas de cunho mercantil travestidos de "históricos", como "mestres da restauração", "caçadores de relíquias" e o "incomparável" "trato feito" - um ícone ao "capitalismo histórico" em que uma família de comerciantes se gaba por explorar vendedores anônimos de quinquilharias (na compra) que se tornam relíquias (na venda), e cuja chamada publicitária propala em tom de deferência: "aqui o comerciante sempre ganha".
Para se conquistar o lucro a qualquer custo, e em escala crescente, evidenciando-se (e enaltecendo-se) as "necessidades ilimitadas" é preciso abarcar com avidez e resolução os "recursos limitados". E a maneira de "minimizar" os efeitos de tal despropósito e legitimar a depredação ecológica e extinção em massa de espécies animais, nada melhor do que retirar desses a sua importância.
Aqui encontramos a "solução final" do moderno "Reich capitalista": 
O "sistema", com distinta e sutil ardileza, solucionou tal incongruência, "humanizando os animais"!
E o ícone desse acinte pode ser observado em cores carregadas de mau gosto na infeliz programação oferecida pelo canal televisivo que, por suposto, deveria sustentar o estandarte do conservacionismo da vida animal e, por conseguinte, dos ecossistemas ameaçados: o Animal Planet.
Raras vezes senti minha inteligência tão insultada como no dia em que me deparei com o slogan do referido canal: "Animal Planet - surpreendentemente humano". A mensagem subliminar (fartamente fundamentada pela programação oferecida pelo referido canal) não deixa dúvidas sobre seu objetivo final: levar às últimas consequências o antropocentrismo!
Seria de se esperar assistir em um canal chamado "Animal Planet" os aspectos mais relevantes da vida ANIMAL, o que pressupõe a apresentação de documentários sobre a vida selvagem, a luta pela sobrevivência de espécies ameaçadas, os efeitos da expansão humana sobre a vida animal, etc.
Ao reverso disso, somos enxovalhados com programas do tipo: "encontros mortais" (dando enfoque à malévola natureza dos bichos); "amor de gato" e "encantador de cães" (mostrando o quão humanos são os animais, e o quão importantes os animais domesticados são para nós); "com água até o pescoço" (programa "surpreendentemente humano" que mostra as peripécias de construtores de aquários de luxo metidos a engraçadinhos); "atrações fatais" (quase um "clássico do suspense hitchcockiano", que relata, em tons patéticos, desfechos trágicos de humanos doentes mentais que coabitam com "perigosos e ferozes" animais assassinos); e o exemplo mais bem-acabado do mau gosto: um tal "bichos vergonhosos" (que relata estórias de animais de estimação com comportamento incongruente com a fina etiqueta humana, dentre eles, os absurdos casos do cão que peida, da cadela que lambe em excesso e da ave que joga comida para fora do cocho!).
É bastante clara a carga ideológica subliminar: os animais que realmente importam são os "nossos", os "civilizados", os verdadeiros representantes do reino animal. As subespécies animais, as sub-raças "incultas" e ameaçadoras não são dignas de nossa atenção em horário nobre e, uma vez que nada nos acrescentam - sequer as conhecemos! - seu desaparecimento nada significará. Afinal, somos amantes dos animais - os "verdadeiros" animais, que nasceram para alegrar nossas vidas, para cuidar de nossas casas e ornar nossos aquários.
Internalizada tal mensagem, está legitimada a matança, a extinção... Afinal, se o "Terceiro Reich" conseguiu, utilizando tais "ferramentas", legitimar o extermínio em massa de seres humanos, a implantação pelo "Quarto Reich"  - o "Reich Global" - da "solução final" para a "inferioridade racial animal" haveria de ser moleza, não acha?



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