quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

EXCERTO SOBRE O CIÚME

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O ciúme em excesso parece ser uma manifestação patológica. Pessoas acometidas por este mal costumam agir de maneira ilógica e irrefletida.
Aparentemente, sua manifestação associa-se a uma personalidade extremamente egoísta, o que parece referendar a tese de que ciúme esteja relacionado com o sentimento de posse. Afinal, tanto mais se sente ‘dono’ e tanto mais se valoriza a ‘posse’, quanto mais egoísta alguém for. E, perder a posse de algo é muito mais traumático para esse tipo de pessoa.
Seja como for, as manifestações patológicas de ciúme são danosas à integridade da relação porque lhe afetam elementos nevrálgicos.
A primeira vítima do ciúme patológico é a vaidade do parceiro (ou da parceira).
Seu orgulho fica ferido por detectar que aquelas manifestações nada têm a ver com apreço ou amor. Trata-se de desconfiança gratuita embasada em possessão desmedida.
O sentimento que acomete a vítima de tais agressões é o de frustração num primeiro momento, seguido de uma tendência à ‘vitimização’. A constatação de que nem toda sua diligência em desfazer as dúvidas, em esclarecer as situações, e provar confiabilidade, surte resultado, faz com que a pessoa se sinta desvalorizada. Isso a afeta em sua vaidade: “quem ele (ela) pensa que é? Pensa que é melhor do que eu?”
O que se segue é a indignação. Depois, com a persistência dos atos doentios, a desesperança.
Paralelamente a isso, começam a surgir dúvidas sobre a aptidão da pessoa ciumenta à relação. Por se mostrar extremamente ciumenta, o que deixa transparecer é mais insegurança do que egoísmo. Tende-se a acreditar que aquela pessoa age daquela maneira porque é insegura. Só depois é que se percebe (quando se percebe!) que se trata de expressão insofismável de puro egoísmo.
Mas, desde o início é possível identificar elementos factuais que levam à conclusão de que não se trata de profunda dependência decorrente de um imensurável sentimento de amor – argumento com o qual se costuma justificar tal comportamento.
É comum ouvir: “desculpe, mas eu morro se não tiver você na minha vida. Minha vida sem você não tem o menor sentido. Você não tem idéia do quanto é importante pra mim e do quanto eu te amo”.
Mas os fatos indicam o contrário. Um dos principais indícios de que se trata mesmo de uma manifestação patológica, de sentimentos de posse e egoísmo extremados, é a utilização de “recursos de distinção de direitos”.
O ciumento patológico tende a negar direitos à outra pessoa que exige para si. Algo como ‘eu posso, você não pode’.
Outro fato interessante de se observar é a propensão do ciumento criar realidades próprias, versões pessoais para fatos, que não condizem com a realidade e não prestigiam a equidade de direitos na relação.
Assim, abundam as conjunções adversativas (mas...) e ocorre uma busca incessante por argumentos que provem, às vezes de maneira patética, a justeza de seus atos e argumentos doentios.
Durante todo este processo, mágoas são acumuladas, fazendo com que o amor, ou a dependência amorosa diminua. É aqui que o ‘jogo’ pode se inverter, se não acabar antes.
Se o ciumento possessivo estiver no comando da relação (posição de maior segurança), ele imputará sofrimentos, mágoas e dores à outra parte. Isso fará com que esta se ‘fortaleça’ mediante a diminuição da dependência emocional.
Este ‘fortalecimento’, ou desprendimento, causará a intensificação da ação do ciumento, que, entrará em pânico por perceber que o risco de perder sua ‘posse’ aumentou. Este pânico motivará a intensificação das ações desmedidas. O descabimento de propósitos chegará ao extremo e os primeiros sinais de ruptura aparecerão.

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