quarta-feira, 25 de julho de 2012

"O PODER DO OTIMISMO"

Ouvi, há pouco, interessante explanação acerca do comportamento cultural da elite brasileira no último século. Por tê-lo "pego" de passagem, enquanto procurava por algo "útil" na depauperada "TV paga", não poderei, infelizmente, informar seu autor, mas o programa que a veiculava, exibido na TV Escola, chama-se "Biblioteca Mindlin". Aludia o entrevistado que, no começo do século XX, a meta do brasileiro de classe alta era estudar em Paris. Hoje, o ápice dos desejos da elite econômica brasileira é comprar uma casa em Miami, demonstrando como, em um século, a busca pela cultura caiu em obsolescência.
Com minha pragmática formação profissional, busco sempre "solucionar problemas", analisando suas causas, identificando seus efeitos, demonstrando o nexo causal entre aquelas e estes, e, por emprego de raciocínio lógico, indutivo ou dedutivo, apontar possíveis meios de "contorná-los".
Aqui, no entanto, não consigo vislumbrar mecanismos solucionadores de tal questão.
Não que eles não existam. São óbvios e conhecidos por todos. Mas incapazes de surtir efeito. Ineficazes.
Com silogismos encadeados, expõe-se facilmente o problema.

Premissa maior:
O homem busca por aquilo que é valorizado simbolicamente na sociedade.
Premissa menor:
A cultura não é valorizada socialmente.
Conclusão:
O homem não busca cultura.

Premissa maior:
O sistema econômico-político predominante edita o pensamento ideológico que o sustém.
Premissa menor:
Os valores culturais são induzidos pelas ideologias.
Conclusão:
O sistema econômico-político cria os valores culturais que, internalizados pela sociedade, garantirão sua manutenção.

Premissa maior:
Uma sociedade inculta é manipulável e passiva.
Premissa menor:
A manipulabilidade e a passividade garantem a estabilidade do "sistema".
Conclusão:
Ao sistema interessa manter a sociedade inculta.

Não preciso me estender na elaboração de tais silogismos porque você já concluiu o que já sabia antes de correr os olhos sobre essas linhas.
A valorização da cultura não interessa ao sistema econômico-político, que lançará mão de portentoso arsenal ideológico visando induzir a valorização de símbolos culturais que lhe interessem e denegrindo os que lhe representem ameaça.
Os mecanismos para tal fim refogem ao escopo da presente análise, mas já foram abordados alhures, neste espaço.
E o motivo pelo qual afirmei retro que não vislumbro solução é porque dentre tal "arsenal ideológico", figuram estratégicas ferramentas de "autoproteção" (esse Lula me mata com essa reforma ortográfica!).
São os mecanismos secundários que resguardam a "ideologia principal", dando-lhe suporte, sobretudo fundados no "controle social", como a ridicularização a que é submetido aquele que ousa sublevar-se.
É assim, por exemplo, com o aluno "CDF", um "idiota completo" que prefere estudar a "curtir com as minas". É assim com aquele "cara ridículo e arrogante" que conjuga verbos corretamente. Com aquele "babaca" que "não curte futebol e uma gelada". Com aquele "otário" que trabalha corretamente (por ele e pelos outros) numa repartição pública na qual "quanto mais se trabalha, menos se ganha". Com o "troll" que ora escreve ouvindo Elvira Madigan, ao invés de "ai se eu te pego".
Enfim, exemplos são inúmeros!
Por isso, nenhum vislumbre...
Pode-se tentar de todas as formas. Nada que se faça é capaz de resgatar um "aculturado" de sua letargia "mó legal". De sua alienação travestida de "antenação".
Publique, numa rede social, uma postagem histórica ou filosófica. Duas ou três pessoas a visitarão. Publique uma piada idiota sobre futebol, novela ou sobre a rivalidade "homem x mulher". Milhares a "curtirão".
Veicule numa mídia impressa ou televisiva um texto ou programa cultural. O veículo "quebrará". Não vende!
Por isso, o History Channel se transformou em vendedor de "um jogo brutal, violento, com muito sangue e que vicia" e outros mais "programas mercantis".
O "sistema" transformou o bonito em feio e o feio em bonito para vender mais.
Afinal, ganha-se mais vendo um tablet, um celular, um jogo eletrônico do que um livro.
Não há desculpas para tamanha depauperação cultural. A internet possibilita acesso a milhares de e-books, publicações eletrônicas de revistas, jornais, universidades. Tudo gratuito. Mas prefere-se gastar horas, dias, meses, anos, a vida em joguinhos eletrônicos e fofocas em redes sociais.
Tal alienação coletiva travestida de "conectividade modernizante" revela-se eficaz e oportuna. Sob seus efeitos o "sistema" se perpetua, fortalece-se.
E numa olhada rápida no "tapete vermelho da passarela da mediocridade alienante" chamado facebook, identifico a mais clara evidência da eficácia do mecanismo a que ora me refiro - uma publicação (ali chamada "post") com o seguinte teor: "Posto. Logo, existo!".
Meu Deus!!!!!!!!!! Pobre Descartes!
Nada mais a dizer... Exceto, talvez, "bosta, ainda resisto?".
Ou talvez eu devesse dizer:
"Aí, mano, ké sabe, que se f...! isso eh só um conflito de geração (sic). Depois essa galera descola um trampo e toma juizo, salva o planeta e o karaio a quatro, tá ligado? Eu vo é toma minha breja e assisti meu futebol pq a vida passa mó rápido e eu naum tenho tempo a perde, falo?".
Bem... tudo bem que a ignorância, às vezes, é uma benção... mas, até o nirvana da ignorância pode ser alcançado com um mínimo de dignidade. E quanto ao "conflito de gerações"... desculpe, mas... o ser humano desenvolve o raciocínio bem antes da puberdade!
E a resposta para a pergunta "ainda resisto?" decorre de um raciocínio lógico: se eu não me curvei ao "sistema" e se você não se curvou ao "sistema", então, talvez existam mais de nós por aí, esperando uma motivação para resgatar sua "alma" da danação eterna da mediocridade conectivo-modernizante.
Talvez, com otimismo, eu volte, um dia, a "existir" por pensar (Cogito, ergo sum), e não por "postar"! E deixe, enfim, de ser um "troll" -seja lá o que isso signifique!



Um comentário:

  1. será que é o controle social feito pelos grandes com o intuito de alienar que é o realmente problema da sociedade "idiotizada" ou o verdadeiro problema é que as pessoas gostam de ser alienadas? Percebo que as pessoas gostam de aplaudir e venerar o que lhe são mediano para baixo. O problema é que a maioria não gosta de ter grandes esforço e por isso se contentam com pouco. O que eu quero dizer é que poucos querem ser como Einstein. Ele foi um gênio, isso não tem como negar, mas o que as pessoas querem esquecer é que ele sempre se esforçava, nada veio ao acaso sem a dedicação e perseverança dele. E é isso que as pessoas não querem. Para que ser inteligente se eu posso ser esperto? O que a mídia inteligentemente faz é fazer com que essa "filosofia" vire regra, o que não é tão difícil assim, e manipular para que as pessoas "inteligentes" tirem proveito disso. Pois, se não houvesse essa pequena e indispensável ajuda de cada individuo, o sistema teria que ser extremamente imbatível. Com todo essa explosão tecnológica e acesso a informação que há, não tem como dizer que as pessoas são alienadas porque a mídia a forçou. Existe a opção de querer ser ou não. E é claro que todos escolhem ser, é fácil, tem um preço, mas não é tão alto quanto o esforço.

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