segunda-feira, 23 de julho de 2012

AS ELEIÇÕES "PÃO E CIRCO" E O FACEBOOK

Algo familiar começa a acontecer. Caixa de correio e parabrisa do carro "recheados" de "santinhos", vinhetas altas, pobres e irritantes repetindo à exaustão um número a ser "decorado" e aquelas carreatas importunas, barulhentas e desprovidas de sentido lógico que tumultuam ainda mais o trânsito já caótico.
A cada dois anos essa "aberração" acontece. E, vez que já acontecia antes de nascermos, achamo-la normal. Mas detenhamo-nos um pouco em analisá-la.
O "modelo" do processo eleitoral brasileiro é centrado em rígidas leis, rigorosa fiscalização e tecnologia de ponta. E, claro, o T.S.E., altivo, gaba-se de tal.
Afinal, as institituições políticas, assim, pernanecem protegidas.
Mas, e quanto ao "outro modelo"? Aquele que rege o mecanismo de transmissão de informações acerca dos candidatos ao eleitor? Como os senhores candidatos se apresentam a nós, que, querendo ou não, somos obrigados pela C.F. a "elegê-los"?
Bem, o modelo todos conhecemos. Mas eu lhe convido a analisá-lo.
Tomemos um exemplo: um carro de som em "decibéis últimos" executando uma musiquinha horrorosa, bem fácil de decorar, repetindo um nome e um número, e propalando, em refrão, termos como "trabalho", "saúde", "educação", "seriedade" e "honestidade".
Os "decibéis últimos", provavelmente signifiquem: "verme eleitor, eu, candidato que, se eleito com sua ajuda, receberei vencimentos infinitamente maiores que o seu salário, pagos por você, quero, a qualquer custo, o seu voto, pouco me importando se o som estrondante, a que ora lhe submeto contra sua vontade, o incomodará ou não".
A "musiquinha", fácil e repetitiva, com um número a ser decorado e aquelas supracitadas "palavras de ordem" podem significar: "verme eleitor, uma vez que eu tenho certeza de que você é um alienado, burro e ignorante, não me acanho em tratá-lo como tal, bastando para que eu atinja meus fins (arrumar minha vida com a sua ajuda e às suas custas), que você decore, por repetição, o meu número e o digite no dia das eleições".
Noutras palavras, você é tratado como um imbecil, ignorante e otário. E não se mostra indignado com isso...
Mas há "aberrações" ainda mais vexatórias que essa.
É o caso dos pomposos "show-mícios".
O aviltamento à dignidade do eleitor começa já na degeneração do termo "comício" em "show-mício", um acintoso insulto á inteligência mediana que quer dizer, grosso modo: "vermes eleitores, já que vocês não têm inteligência, nem discernimento, e muito menos dignidade, pouco lhes importará se nós, candidatos, nada lhes dissermos sobre nossas histórias e propostas, bastando para vocês, algumas musiquinhas de cantores de qualidade duvidosa e um foguetório-monstro, porque vocês, assim como insetos, são atraídos pela luz; como animais, são atraídos pelo barulho; e como idiotas completos, desprezam as ideias e a história.
Esse é um pálido esboço do "modelo eleitoral" não contemplado pela Lei, senão para legitimá-lo. O "modelo" de propagação do panis et circenses, o romano "pão e circo".
O que me intriga, no entanto, é que a ignorância popular poderia ser facilmente justificável na Roma antiga. Mas, o que justificaria a permanência, na era da internet, de uma sociedade em tão baixo nível analítico a ponto de se permitir submeter-se a tratamento tão vergonhoso sem demonstrar indignação? Sem promover algum tipo de mobilização minimamente articulada?
Bem, talvez se os senhores "facebookianos" gastassem menos tempo com frivolidades, com a escolha de suas melhores fotos (tratadas ou não!), com a "autopromoção" de suas viagens, amores e desamores, suas inócuas filosofias de botequim, e atentassem para o fato de que são vetores capazes de formar opinião e influenciarem-se mutuamente, talvez poder-se-ia pensar em se vislumbrar alguma mudança significativa a longo prazo.
Mas vivemos num "mundo estranho". Num mundo em que "todo mundo quer ir pro céu, mas ninguém quer morrer". Numa sociedade em que "parecer ser" é mais importante do que "ser" de fato. Então, basta parecer politizado. Basta conhecer alguns "mantras pseudo-filosóficos" retirados de letras de músicas, para parecer intelectual e "profundo". E basta parecer o mais belo e bem-sucedido possível (politizado ou não!).
O resto... bem o resto o "show-mício" resolve.

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