segunda-feira, 15 de março de 2010

CAMPANHA 'EMPATIA JÁ'


Em dias de 'luta pela sobrevivência' travestida de "proatividade"; em tempos de reedição do "estado de natureza" Hobesiano maquiado com cores pastéis de cívica (ou cínica, tanto faz!) modernidade 'auto-sustentável'; em épocas de absoluta denegação de valores construtivos em favor de outros, "competitivos", venho propor (àqueles que se dignam a campear estas paragens em detrimento dos construtivos 'rebolations' e similares que grassam os quatro cantos do universo cultural brasileiro) a adoção de postura empática no trato social.

É claro que soa despropositado num primeiro momento. Quase sem sentido... Mas, pensemos um pouco a respeito desta proposta.

A definição 'wikipédica' de empatia é: "O estado de empatia, ou de entendimento empático, consiste em perceber corretamente o marco de referência interno do outro com os significados e componentes emocionais que contém, como se fosse a outra pessoa". O suficiente para se depreender o caráter construtivo da atitude empática.

De forma mais simples: você gosta que lhe digam "muito obrigado" quando você presta algum favor ou serviço? Ótimo! Os outros também! Você odeia que lhe sejam rudes ou mal-educados? O mesmo acontece com os outros. Simples assim.

Aliás, se você não age segundo os princípios da empatia, há grande possibilidade que você se encaixe no perfil de egoísta, ou pior: de hipócrita! Pense a respeito. Se você quer que os outros lhe façam algo que não está disposto a fazer, então você é egoísta. Se condena os outros por não agirem de certa maneira que você próprio não age, então é hipócrita.

Mas há ainda outra possibilidade: você simplesmente não se importa. Tipo: "F...-se! Estou pouco me lixando para o que os outros pensam, aliás, estou pouco me lixando pros outros". Bem... apesar de absurdo, tal atitude não é incomum, infelizmente. Não sei se pode ser nominada, mas não importa. Importa suas consequências. Estão estampadas nas manchetes de jornais, em seções políticas, econômicas e policiais. É o "estado de natureza" reeditado com as cores, enredo e trilha sonora da modernidade. Vergonhosa modernidade que cria pequenos deuses vazios por dentro, cheios de si, prontos para ferir, enganar, destratar, trapacear, machucar, matar em nome do sucesso (alguns dão o nome de 'felicidade', outros de 'o leite das crianças', outros ainda de 'meu sonho').

Este é o mundo em que vivemos, fazendo de conta que tudo está certo porque o que conta, no final, é o resultado - que em 90% dos casos é insatisfatório.

Empatia... em que ela poderia ajudar? Antes de responder, pense: o que explica o fato de se ver alguém caído numa rua, e não se parar para ajudar? O que explica a fática ingratidão egoísta que decreta o fim de relacionamentos amorosos aos milhares, diariamente? O que explica o desrespeito com que se tratam pessoas humildes, idosas, pobres, negras? O que explica a necessidade de se criar leis criminalizantes para combater comportamentos como racismo e preconceito? O que poderia explicar a atitude de um ladrão que, já tendo auferido os lucros de seu roubo, executa sua vítima sem que esta esboce reação? O que explicaria um político rico apropriar-se de dinheiro público que serviriam a projetos sociais que atenderiam necessidades de pessoas realmente carentes? A reposta a todas essas perguntas e todas mais que se possa formular nesse sentido é uma única: A FALTA DE EMPATIA. Foi ela que possibilitou que uma nação cristã inteira fizesse pouco do holocausto de mais de seis milhões de pessoas. É a falta de empatia, também, que não nos permite meditar sobre esse número... Seis milhões de pessoas! "Não conheci nenhuma. Não eram meus parentes. Portanto, nada tenho a ver com isso". Ainda que não se pense conscientemente dessa maneira, é esse o resultado do raciocínio paradigmático que se desenvolve comumente.

Já percebeu uma coisa? Quando vemos cenas de grandes catástrofes não nos abalamos tanto quanto quando vemos o sofrimento de alguém em particular. É por isso que os filmes de Hollywood jamais tratam de temas históricos sem criar um enredo particularizante, focado no sofrimento de uma ou de poucas pessoas. É que só assim conseguimos ter empatia. Aliás, só gostamos de um filme quando "empatizamos" com o personagem - colocamo-nos em seu lugar, em sua pele.

Só que se colocar na pele do herói é fácil! É "bacana"! Por isso o mundo está cheio de "bacanas". Heróis de si mesmos que pouco têm de virtudes a não ser, talvez, as propaladas pela tv, que não são, é claro, as mais construtivas, já que valores construtivos não vendem carro nem cerveja.

Se se tiver de ter empatia, que seja para se colocar na pele do Playboy que compra um carro importado ou no do rapaz musculoso cercado de lindas louras seminuas enquanto bebe uma cerveja de sabor questionável. É assim que se constrói a 'falsa empatia', que reforça a onda de egoísmo e egocentrismo que depaupera as relações sociais, tornando o mundo um lugar pior de se viver.

Pense em tudo isso quando, da próxima vez, tratar um garçom como se fosse um 'nada', seu subarterno como se fosse seu escravo, seu cônjuge como se fosse sua propriedade.

Empatia... adote esta idéia, antes que seja tarde e o moderno "estado de natureza" degenere numa "guerra de todos contra todos" em que ninguém vencerá, como já não venceu no passado!

E, para os religiosos: quando Cristo disse "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Mateus 22:39), a isso se dá o nome de EMPATIA.

Pense nisso...


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